O final de semana foi marcado por muito tumulto nas unidades prisionais cearenses. A greve dos agentes penitenciários, iniciada e encerrada no sábado, foi o estopim para as rebeliões, registradas em praticamente todas as unidades devido à suspensão das visitas de familiares. Presos e parentes ficaram revoltados com a restrição de contato. A morte de 5 detentos foi confirmada pela Secretaria de Justiça e Cidadania(Sejus) após as rebeliões na Região Metropolitana de Fortaleza.
Segundo a Sejus, duas mortes foram registradas sábado na Casa de Privação Provisória de Liberdade professor Jucá Neto (CPPL III), em Itaitinga, após conflito entre os internos. As outras três mortes ocorreram na Unidade Prisional Francisco Adalberto Barros de Oliveira Leal, conhecida como Carrapicho, em Caucaia.
Na noite de domingo, o clima continuava tenso nas CPPLs de Itaitinga. Apesar das rebeliões terem sido controladas, familiares dos presos estavam aflitos sem notícias. A polícia confirmou que o estado dos corpos dificultou a contagem dos mortos e as unidades ficaram destruídas.
A mãe de um detento que não quis ser identificada falou sobre a situação. "Nossas amigas ligando, falando que os policiais estavam atirando nos presos daqui com bala de verdade, sem ser de borracha. Eu estava desesperada e vim até aqui. Os policiais deram tiro de borracha nas meninas que se encostaram no portão. Foi o maior sufoco", relatou. A mulher também disse que os familiares foram comunicados de que as visitas iriam ocorrer normalmente. "A Secretaria da Justiça ligou para nós na quinta-feira, dizendo que as visitas seriam normalizadas, mas quando chegamos aqui, não receberam ninguém. Por isso que começou o quebra-quebra deles aí dentro, porque eles estavam necessitados de materiais e os policiais não deixaram entrar", detalhou.
Uma viatura da Polícia Rodoviária Federal ficou do lado de fora para impedir que novas interdições das pistas fossem feitas pelos familiares dos presos. Várias viaturas das polícias Militar e Civil entravam e saíam do complexo. Veículos do Corpo de Bombeiros também foram acionados por conta dos incêndios causados pelos presos, além de ambulâncias. O rabecão da Perícia Forense também foi chamado para recolher os corpos.
A perita Sônia Silva informou que não era possível saber o número exato de mortos devido ao estado dos corpos das vítimas. "Ao adentrar, os corpos ainda estavam queimando. Ainda vamos fazer uma triagem pra saber, realmente, quantos corpos foram carbonizados", informou. Com 33 anos de profissão, a perita ficou impressionada com as consequências das rebeliões. "Essa foi uma das piores, com certeza vai ficar pra história. Foram muitas vidas que foram tiradas", lamentou.
Um pastor que trabalha junto aos presos na CPPL IV contou como ficou a unidade após os confrontos. "Foi uma noite crítica aqui dentro do sistema penitenciário. A cadeia está totalmente destruída. Toda a estrutura da enfermaria e toda a estrutura administrativa estão totalmente destruídas", afirmou. Ele também disse que os presos foram transferidos de uma ala para a outra. "Foram transferidos quase 300 homens para as CPPLs. Os agentes agiram de uma forma muito eficaz, impedindo muitas mortes, juntamente com os policiais do Choque", disse.
Situação complicada também do lado de fora dos presídios
Familiares de detentos bloquearam a BR-116, o que provocou um grande congestionamento na via. Gritos, bombas e desespero; assim foi marcado o domingo na parte externa da CPPL I, em Itaitinga. Foram acionados carros do Corpo de Bombeiros, viaturas da polícia, Divisão de Homicídios e Perícia Forense. A confusão só aumentava porque nenhuma das mulheres; mães, parentes e esposas dos presos, recebiam notícias do que acontecia dentro da unidade.
Uma chegou a passar mal. "Pelo amor de Deus, eu peço clemência. Tirem meu filho e socorram todos que estão lá dentro. Isso é uma coisa horrível, muito triste", disse Margarine Clares.
Carrapicho, em Caucaia
Luiz Barreto, aposentado, é pai de um detento réu primário no Casa de Privação Provisória de Liberdade Desembargador Francisco Adalberto de Oliveira Barros Leal, conhecido como Carrapicho, em Caucaia. Ele conseguiu falar com o filho que estava assustado com as confusões que aconteceram no local no sábado. "Foi justamente no pavilhão dele onde morreram três. Parece que outros presos vieram de outros pavilhões e mataram os que estavam lá e foi uma confusão danada. Ele está muito nervoso lá dentro", explicou.
Por volta das 11h30 desse domingo, a delegada titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, Socorro Portela, esteve no local para fazer a contagem dos mortos. Segundo informações, os próprios presos levaram os cadáveres até a entrada de um dos pavilhões para que as autoridades pudessem ter acesso.
SITE: TV DIÁRIO
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